Versículo do Dia


domingo, 27 de julho de 2014

Divórcio e recasamento: imperdoáveis pelo Esp. Santo?

Antes de escrever sobre o assunto, convido-lhe a ler a transcrição de um artigo do site Psicoterapeuta Cristão:

Vivenciar o divórcio pode ser uma das experiências mais estressantes e dilacerantes da vida das pessoas. Vivenciá-lo dentro da igreja, no entanto, pode ser ainda pior.

Isso porque muitos cristãos sinceros, infelizmente ainda não obtiveram o conhecimento bíblico correto sobre o assunto e, por causa disso, são reticentes na sua relação com irmãos divorciados.

Esse post tem como objetivo lançar alguma luz sobre a questão. Primeiramente, é preciso que nos lembremos de que “… a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (Jo. 1.17).

A primeira pergunta que devemos nos fazer, portanto, é se os que vivem tragédias matrimoniais como o divórcio, por exemplo, também são dignos dessa “graça” e dessa “verdade” trazidas por Jesus. Creio que uma consciência cristã experiente tem a resposta certa para ela.

Um outro ponto importante é dizer que a Bíblia fala apenas de um divórcio, no texto de Jeremias 3:8, que diz o seguinte: “E vi que, por causa de tudo isto, por ter cometido adultério a rebelde Israel, a despedi, e lhe dei a sua carta de divórcio, que a aleivosa Judá, sua irmã, não temeu; mas se foi e também ela mesma se prostituiu”.

Nesse texto, Deus está advertindo a Judá de que está procurando problemas. Ele, então, instruiu a Jeremias para que alertasse a Judá de que ela havia sido testemunha da infidelidade de sua irmã Israel, e que Ele a havia mandado embora e lhe dado carta de divórcio. Assim mesmo, Judá não se arrependeu (Jr. 3.6-8).

Porquê a falta de compreensão sobre o divórcio?
Quando Jesus foi questionado pelos fariseus, no evangelho segundo Marcos, “se é lícito ao  marido repudiar sua mulher” ele respondeu, fazendo outra pergunta: “Que vos ordenou Moisés?”

A resposta deles foi: “Moisés permitiu lavrar carta de divórcio e repudiar” (Mc. 10.2-4).
Essa resposta dada pelos fariseus se refere à lei à qual o historiador Josefo, que viveu um pouco depois da época de Jesus, chama de “a lei dos judeus”, e se encontra em Deuteronômio 24.1-4.

Esta é a lei de que trata Deuteronômio: “Se um homem tomar uma mulher e se casar com ela, e se ela não for agradável a seus olhos, por ter ele achado coisa indecente nela, e se ele lhe lavrar um termo de divórcio, e lho der na mão, e a despedir de casa; e se ela, saindo da sua casa, for e se casar com outro homem…” (Dt. 24.1-2).

Isso estava vigente na época de Jesus, mas a situação em que os homens judeus viviam era bem diferente, pois eles, na realidade, não a praticavam, e tomavam outras esposas, sem se incomodar em pensar em divórcio.

Ora se não se divorciava, o que fazia, então, um homem daquela época com a primeira esposa, quando tomava outra? Simplesmente, punha-a de lado, não lhe dando documento algum. Assim, caso se arrependesse, tinha a esposa anterior sempre à sua disposição! Isso era uma crueldade para com as mulheres, contra a qual Jesus se insurgiu.

A palavra hebraica, usada no Antigo Testamento, para descrever esse “pôr de lado” ao qual nos referimos é shalach, diferente da palavra que significa divórcio (como utilizada em Jeremias 3.8) que é keriythuwth que, literalmente significa excisão ou corte do vínculo matrimonial.

Ora, shalach normalmente é traduzido por “repudiar”. Então, as mulheres que eram “colocadas de lado” por seus maridos, sem carta de divórcio como mandava a lei, eram “repudiadas” e era contra essa espécie de repúdio que Jesus se opôs.

Quando, em Lucas 16.18 ele diz: “Quem repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério; e quem casa com a mulher repudiada pelo marido também comete adultério”, ele está se revoltando contra uma prática cruel e injusta, porém não está se referindo ao divórcio.

Na verdade, no Novo Testamento, a palavra grega utilizada para “repúdio” vem do verbo apoluo, e é equivalente à palavra hebraica shalach (“deixar” ou “repudiar”). Já a palavra hebraica utilizada para “divórcio” é keriythuwth, cujo equivalente no grego (língua na qual foi escrito o Novo Testamento) é apostasion.

Resumindo, para ficar mais claro: shalach, no hebraico, corresponde a apoluo, no grego e significa “repúdio”, em português. Keriythuwth, no hebraico, corresponde à palavra grega apostasion e significa “divórcio”, de fato, em português. A não compreensão dessa diferença é que provoca tanta confusão e tanta incompreensão em nossos dias!

Que palavras Jesus se utilizou para tratar do assunto?
As passagens bíblicas nas quais Jesus tratou deste assunto incluem Lucas 16.17-18; Mateus 19.9, Marcos 10.10-12 e Mateus 5.32. Nessas passagens, Jesus utilizou onze vezes a palavra apoluo, em uma de suas formas e, em todas essas ocasiões, o que ele proibiu foi o apoluo, ou seja, o repúdio. Ele jamais proibiu apostasion, a carta de divórcio exigida pela lei judaica!

Isto posto, devemos traduzir a palavra grega apoluo por divórcio? A tradução Revista e Corrigida de Almeida, que é a mais antiga em língua portuguesa sempre usou “deixar” e “repudiar”. Do mesmo modo, emprega essas mesmas palavras a Revista e Atualizada.

E Por Que As Pessoas Passaram a Ler Diferente?

Essa é uma pergunta sobre a qual vale a pena discorrer um pouco, pois, no meio evangélico, principalmente, começou-se a ler: “aquele que divorciar sua mulher” nas passagens em que Jesus, com muita clareza, disse: “aquele que repudiar ou abandonar sua mulher”!

Ao que tudo indica, esse equívoco começou em 1611, quando a rei Tiago encomendou a versão mais antiga e, hoje em dia, mais popular da língua inglesa (a chamada King James Version). Nessa edição ocorreu um problema: em uma das onze vezes que Jesus usou o termo, os tradutores escreveram “divorciada”, ao invés de “abandonada” ou “repudiada”.

Isso aconteceu em Mateus 5.32, onde eles colocaram: “E aquele que se casar com a divorciada comete adultério”, embora a palavra grega não seja apostasion, mas uma forma de apoluo – situação que não inclui carta de divórcio para a mulher, pois ela, tecnicamente permaneceria casada.

A versão Standard Americana corrigiu o erro em 1901, mas nunca chegou a ser tão popular como a King James Version. Na verdade, tudo o que foi impresso depois (incluindo os léxicos gregos e americanos) foi influenciado por essa ocorrência. De onde resulta o fato incontestável de que a tradição nos ensinou a ter em mente “divórcio”, mesmo quando lemos “repúdio”.

(nota “estrangeira”: Entrei no Biblia On Line e copiei as versões de Mt 5.32:
but I say unto you, that every one that putteth away his wife, saving for the cause of fornication, maketh her an adulteress: and whosoever shall marry her when she is put away committeth adultery (American Standard Version).
But I say unto you, That whosoever shall put away his wife, saving for the cause of fornication, causeth her to commit adultery: and whosoever shall marry her that is divorced committeth adultery (King James).
Também entrei no Biblia On Line Net e abaixo está a versão em grego transliterado:
egô de legô umin oti a=pas tsb=os a=o tsb=an a=apoluôn tsb=apolusê tên gunaika autou parektos logou porneias poiei autên a=moicheuthênai tsb=moichasthai kai os ean apolelumenên gamêsê moichatai)

Conclusão
Tudo o que tivemos a oportunidade de examinar, através deste post, não pode e nem teve a pretensão de defender a prática do divórcio. Biblicamente falando, todos sabemos que o matrimônio foi planejado para durar a vida toda.

Portanto o divórcio é um privilégio, no sentido de servir como um corretivo apenas para situações intoleráveis. Mesmo assim, não deixa de ser uma tragédia: sentimento de culpa, perda da auto-estima, um agudo senso de ter falhado, solidão, rejeição, críticas dos familiares e dos irmãos em Cristo, problemas na educação dos filhos e uma série de outras graves consequências são os resultados concretos que afligem os divorciados.

No entanto, a graça de Cristo é abundante para eles também. Jesus sempre se identificou com os que sofrem e com os que, reconhecendo o seu pecado, confessam-no e o deixam. A igreja foi planejada para ser uma comunidade terapêutica, que cura as feridas; não que as fazem doer mais.

Portanto, nosso desejo sincero é que deixemos de ser juízes, pois não foi para isso que Cristo nos chamou. E que tenhamos mais amor, mais compreensão e mais empatia por esses nossos queridos irmãos divorciados. Por eles também Jesus derramou seu precioso sangue purificador!

Tony Ayres
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Bibliografia:
Este artigo está baseado no apêndice O divórcio, a lei e Jesus, incluso in:
Carvalho, Esly Regina, Quando o vínculo se rompe, ed. Ultimato, 2001

(nota “estrangeira”: O texto O divórcio, a lei e Jesus pode ser lido clicando aqui - altamente recomendável)

Todos estamos muito acostumados com a versão “oficial” cristã sobre divórcio e recasamento: NÃO PODE, divórcio talvez e olha lá, só em caso de adultério. É claro que nenhum cristão se casa para se separar anos depois, aliás nem os não-cristãos fazem isso. Os homens nem tanto, mas nós, mulheres, desde pequenas somos influenciadas pelas histórias infantis de que seremos buscadas por um príncipe encantado, com o qual seremos felizes para sempre. Não sei as crianças de hoje em dia, mas até minha geração era assim.

O fato é que não somos príncipes ou princesas, somos homens e mulheres falhos e que muitas vezes tomam atitudes erradas, que pecam e são carentes da misericórdia e do perdão de Deus. Deus perdoa, tem misericórdia, tem amor infinito por nós apesar de pecarmos contra Ele todos os dias. Mas e a Igreja?

É muito fácil jogar pedras quando não somos nós que estamos no meio da arena. No caso em que Jesus salvou uma mulher adúltera da morte por apedrejamento com Sua Palavra, é interessante notar que só a mulher estava sendo condenada. Ora, onde estava o homem com o qual foi cometido o adultério?

Infelizmente repetimos isso atualmente, em pleno século XXI. Temos computadores ultra-avançados, fomos à Lua, podemos conversar em tempo real com uma pessoa do outro lado do mundo, mas as mulheres continuam vítimas, embora agora tenham que trabalhar dentro e fora de casa, numa jornada incansável. Hoje, uma cristã que apanha do marido em muitas denominações está condenada a morrer apanhando, afinal tem que “fé em Deus” que um dia Ele consertará seu marido. Faça o sacrifício, morra, mas não cometa o ato “imperdoável” para a igreja que é o divórcio.

O importante é aparentar santidade, não ser santo. O importante é desfilar com a família no culto do domingo, dando glórias a Deus, e no resto da semana encher a mulher de sopapos e sair com outras, mas no domingo levar a “oficial” no templo! No mundinho gospel, a santidade que importa é a “aparência”: a mulher de César não precisa ser honesta, tem apenas que parecer (livre adaptação minha).

Não sou favorável ao divórcio. Ninguém merece passar os anos de sofrimento que essa atitude causa. Todo o pecado é perdoado, mas traz consequências. A consequência do divórcio é o gigantesco sofrimento em que todas as partes se envolvem, inclusive os filhos caso esses existam. Além do quase infinito sofrimento causado pela dissolução de um sonho que nasceu para ser eterno, ainda há a marca que a “igreja” coloca sobre os envolvidos. Os nazistas tatuavam um número nos corpos dos judeus; a “igreja” tatua a alcunha de “divorciado”, “vivendo em pecado”, “vivendo em adultério”, mesmo já havendo, lá nos céus, o perdão divino. Jesus disse à samaritana que tinha tido 6 maridos: você nunca teve marido. A história já começa com Jesus falando com uma samaritana, e os judeus não podiam falar com os de Samaria; depois vem Jesus e diz que a samaritana nunca teve marido, mesmo ela estando vivendo com o 6o.  Em outras palavras, Jesus lhe disse que, para Deus, é como se ela nunca tivesse sido casada, provavelmente porque até esse último fosse uma relação apenas de “aparência” – ver Jo 4.

É interessante que Jesus falava com mulheres em adultério, mas não há relatos de ter falado as mesmas coisas para homens na mesma situação. Seria isso mais uma evidência do cuidado de Deus para com aquelas que uma cultura profundamente machista colocavam em eterna posição de pecado e de condenação?

Não sou favorável ao divórcio. Não me casei para me separar daqui a alguns anos. Pretendo lutar com unhas e dentes para a manutenção do meu casamento, dos laços de amor e de respeito. Porém, não posso simplesmente jogar pedras nas pessoas que infelizmente não conseguiram suportar situações que desconhecemos. Sirvo a um Deus vivo, que nos perdoa quando nos arrependemos, e se Ele dá o perdão, quem sou eu para não perdoar? Além do mais há aquela exortação: perdoa para ser perdoado.

Como Igreja, ao invés de rotular e defenestrar quem passou por essa triste experiência, da qual já colhe por si só os frutos amargos através do grande sofrimento envolvido, devemos acolher essas pessoas e reintegrá-las nos templos. Como cristãos devemos amar, não relegar as pessoas à uma segunda classe.

Sou casada com um pastor que sofreu um divórcio. Casou-se e o casamento não durou 7 meses. Terminou após muitas brigas, quando ele saiu de casa pois sabia que poderia partir para a agressão física. Foi para a casa de sua mãe no interior, quando voltou não havia mais casa, tudo o que haviam comprado fora vendido a preço de banana aos “irmãos” da igreja onde congregavam. Ficou com todas as dívidas, pois os bens foram comprados à prestação, num montante de cerca de R$ 10.000,00. Ficou sem casa, sem carro, só com suas roupas, e teve de recomeçar do zero. Nunca foi atrás do divórcio, faltou a todas as audiências, sua ex-esposa que entrou com os processos de separação e divórcio. Um dia chega-lhe a notícia de que estava divorciado, e 4 anos depois nos casamos.

Esse foi um grande vale de lágrimas para o meu esposo. Sozinho em São Paulo, uma grande metrópole, traído pela denominação em que congregava (quando o assunto é dinheiro, comprar coisas novas baratinho, não há fé que resista), sem a mulher com a qual fez muitos sonhos, com o nome restrito por conta das dívidas de coisas que ele não tinha mais em mãos, mesmo assim lutou, trabalhou muito e conseguiu pagar as contas. É um homem de Deus que fala com autoridade, embora desconhecido, mas tem uma mácula imperdoável para muitos: o ter se divorciado e se casado novamente. Talvez deveria ter mandado matar a ex-esposa, aí ficaria viúvo e depois se arrependeria e seria aceito pelo “mundinho gospel”. Como ele não ousou consertar um pecado com outro ainda maior, ficaremos para sempre com essa mácula que só os homens enxergam, pois Deus já nos purificou com o Sangue de Jesus há muito.

Não recomendo o divórcio para ninguém. Não é essa a vontade de Deus. Deus nos fez para sermos uma só carne e um só sangue, por isso devemos pensar bem antes de nos casarmos, para evitar sofrimentos futuros. Não há casamento perfeito, por isso devemos semear o amor e o respeito todos os dias, perdoando-nos em todo o tempo. Porém, se alguém infelizmente passou por isso, saiba que a Graça de Deus pode tanto reconstruir um casamento falido, como reconstruir vidas.

Onde abundou o pecado, superabundou a Graça. Que um dia a Igreja aprenda e entenda isso, em nome de Jesus.

 Editado por: Carlos Eduardo

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