Faz algum tempo que tenho debruçado-me sobre as descobertas recentes da física moderna, mais conhecida como físcia quântica, e percebido como ela lança luzes sobre muitos pensamentos e doutrinas teológicas como, predestinação, pré-determinismo, soberania divina, livre-arbítrio humano, presciência, imanência e transcedência.
Recebi um texto de Philip Yancey que desejo partilhar com você. Depois de lê-lo pergunte-se a si mesmo se você entende teologia.
Buracos negros, física quântica e teologia.
A ciência e a teologia mantêm um relacionamento delicado desde a época de Galileu e Copérnico. Em alguns aspectos o cristianismo não conseguiu se recuperar por completo da revolução cosmológica que retirou a humanidade do centro do universo e a confinou a uma posição insignificante. Talvez seja em decorrência desta postura de resistência aos avanços científicos, que poucos pensadores cristãos da atualidade parecem beneficiar-se com o notável desenvolvimento da física moderna. À sua maneira, Einstein, Bohr e mais recentemente Hawkins empreenderam uma revolução tão espetacular quanto a de Copérnico, embora em direções novas, chocantes para muitos.
Para começar, não apenas a humanidade, mas cada indivíduo, homem ou mulher, recuperou, através da física moderna, sua posição de figura central na história do universo. Na física de Newton, os indivíduos não ocupam um lugar especial no universo, exceto como participantes ocasionais no fenômeno estabelecido de causa e efeito. Mas alguns cientistas do século XX defendem que a própria realidade da ocorrência de um evento depende da existência de um observador.
O leigo rapidamente perde o entusiasmo no Reino Encantado da relatividade e da física quântica. Alguém nos ensina que nossa poltrona favorita é formada por grandes espaços vazios preenchidos por alguns átomos que giram a toda velocidade. Ainda assim nós a vemos como um objeto sólido e assentamo-nos nela. Aprendemos que o tempo varia, dependendo da força da gravidade e do movimento, e que um astronauta que parta para o espaço poderá retornar à Terra trinta e seis anos mais novo que o seu irmão gêmeo que aqui permaneceu. Parece melhor deixar de lado este mundo estonteante da física moderna, com suas equações tão longas que vão de uma ponta à outra do quadro-negro e com seus termos amedrontadores como antimatéria, espuma quântica e buraco-negro. Pensando bem, é melhor depender do bom e velho Newton.
Mas os cristãos não devem voltar as costas à física moderna com tanta facilidade, porque muitos de seus princípios sobre a natureza do tempo e do espaço foram provados por físicos e cientistas empreendedores. Além disso, estas descobertas notáveis apresentam novos caminhos para a compreensão de algumas doutrinas teológicas mais complicadas.
Pensemos em uma destas doutrinas: Deus não está preso ao tempo. Os cristãos vêm repetindo, há muitos e muitos anos que 'Aos olhos de Deus mil anos são como um dia' (2Pe 3.8), expressando sua convicção de que a visão de Deus sobre o tempo é diferente da nossa. Dizemos que Ele está além do tempo e do espaço. Para nós, a história humana é uma seqüência de quadros fixos, apresentados um após outro, como um filme. Mas Deus vê o filme inteiro de uma só vez. Embora os cristãos repitam esta crença e quase todos os teólogos, desde Agostinho, tenham-se ocupado dela, poucos a conseguem entender por completo.
Aparece a física moderna. Hoje nos ensinam que o tempo depende do movimento e da posição relativa do observador. Tomemos um exemplo bem primitivo. Olhando para o céu, às 15h 12min, vejo uma estrela brilhante, o sol, que paira no espaço a uma distância de cerca de 150 milhões de quilômetros. Na verdade, a luz que vejo partiu da estrela há 500 segundos, e viajou à velocidade de 300.000km/s, embora eu não me dê conta de estar enxergando o resultado do que aconteceu no astro às 15h 04min (horário da Terra). Se o sol subitamente desaparecesse em face de um ataque furtivo de um buraco-negro voraz, eu só saberia oito minutos depois, quando o céu ficaria escuro e eu gritaria:
- O sol foi embora! - e me prepararia para a extinção da vida na Terra.
Imagine agora uma pessoa muito grande, quero dizer, muito grande mesmo, cuja abertura entre os pés medisse, digamos, 150 milhões de quilômetros. Esta pessoa põe o pé esquerdo na Terra e o direito, com um sapato de amianto, no sol. Subitamente, bate o pé direito. Imediatamente, as labaredas solares espalham-se em todas as direções e o sol expele gases. Oito minutos depois eu, aqui na Terra, percebo a mudança dramática do sol.
Mas estou preso na Terra. A pessoa imensa existe parcialmente aqui e parcialmente no sol, sua consciência engloba os dois lugares. Embora parte de seu ser esteja na Terra, tem pleno conhecimento do movimento do pé direito oito minutos antes de todas as outras pessoas na terra. Pergunta-se então, o que é o tempo para esta pessoa imensa? Depende da perspectiva. Faça um esforço mental ainda maior e imagine um Ser tão grande quanto o universo, que existe ao mesmo tempo no planeta Terra e numa galáxia a milhões de anos-luz de distância. Se uma estrela explode nesta galáxia distante, o Ser sabe no mesmo instante, e mesmo assim ainda verá o evento na Terra, milhões de anos depois, como se tivesse acontecido naquele instante. Aliás, muitas estrelas que vemos à noite podem ter se extinguido ou terem sido engolidas por buracos-negros, mas a sua luz continua chegando até o nosso planeta, mesmo que fisicamente elas não existam mais.
A analogia que fiz uso não é exata, porque tolhe este Ser no espaço, embora o liberte do tempo. Mas pode nos dar uma idéia quanto à perspectiva limitada do conceito de tempo adotado em nosso planeta, no qual se afirma que 'primeiro acontece A e depois B'.
Deus, acima tanto do tempo quanto do espaço, pode ver o que acontece na Terra de um modo que só nos cabe imaginar. Esta linha de pensamento joga luz sobre debates muito antigos sobre a onisciência, presciência, livre-arbítrio e determinismo. Um termo como 'presciência' só tem sentido quando considerado do nosso ponto de vista limitado à Terra, pois presume que o tempo é uma seqüência de fatos, um após outro. Do ponto de vista de Deus, que engloba todo o universo de uma só vez, o significado da palavra é consideravelmente diverso. Falando com precisão, Deus não 'prevê' os acontecimentos. Ele simplesmente os vê, em um presente eterno.
A eternidade é apenas uma das muitas doutrinas que recebem luz através dos avanços da física moderna. Os novos teólogos poderiam tirar proveito se estudassem a teoria dos universos paralelos, usando-a para investigar o problema do mal. A teoria da interconexão de toda a matéria e energia seria útil para abordar as palavras bíblicas sobre a união entre os que crêem. A teoria que trata de como a consciência afeta a matéria poderia trazer esclarecimentos sobre o poder da oração. A maioria de nós carece de um conhecimento qualificado que nos oriente na compreensão de muitos destes mistérios. Os zen budistas aproveitaram a oportunidade e publicaram obras sobre como suas crenças se adaptam aos conceitos contemporâneos da física. Espero que repensemos nossos conceitos, muitos dos quais, ainda medievais. A fé religiosa, assim como a matéria, enfrenta constantemente o perigo de ser engolida por um buraco-negro.
Extraído da revista Cristianity Today.
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Talvez valha lembrar do texto paulino aos Romanos:
"Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos"
E entender, de uma vez por todas, que estamos longe de teologizar a divindade e os mistérios do universo.
Por: Pr. Adriano Moreira
Pr.marcos Bressan gostei muito bom
ResponderExcluirObrigado pela visita e por comentar
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