Introdução:
A salvação para o homem não é obra humana, pois a salvação vem de Deus. Isto significa que o homem depende inteiramente de Deus. A salvação se dá pela regeneração e pela renovação do Espírito Santo de Deus, assim o homem é justificado pela graça, mediante a fé, tornando-se herdeiro de Deus e alcançando a vida eterna.
Conceito de salvação
Conceito de Salvação: [o vocábulo Gr. Soteria = cura, remédio, salvação, bem-estar + logia = ensino, estudo, doutrina, etc.]. Então SOTERIOLOGIA significa – estudo sistemático das verdades bíblicas acerca da salvação.
I. A provisão da salvação.
As Sagradas Escrituras afirmam que Cristo é tanto o Autor como o Consumador da fé (Hb 12.2).
A designação de Autor refere-se à provisão da salvação mediante Jesus Cristo; e Consumador refere-se à aplicação desta salvação também mediante Cristo.
Vamos analisar as causas da provisão da salvação:
1. O homem do pecado.
Por causa da própria natureza caída, o homem, desde o seu nascimento até a sua morte, está em inimizade com Deus (Sl 51.5; Rm 7. 24).
O pecado é um estado mau da alma ou da personalidade. Desta forma, às escrituras apresenta o homem como um ser totalmente depravado, alienado da glória de Deus e destinado ao castigo divino (Rm 3. 23). Deste modo, por si só, o homem não pode se salvar (Rm 7. 18).
Sob a perspectiva divina, o homem é considerado alguém espiritualmente paralítico, aguardando o estender do braço salvador (Is 59. 16).
2. A Graça Divina
No contexto da Doutrina da Salvação, a graça de Deus é abordada sob dois aspectos:
a) Como favor imerecido da parte de Deus, para com todos indistintamente (Jo 3. 16).
b) Como poder restringidor do pecado, operando na reconciliação do homem e sua santificação (Jo 1. 16; Rm 5. 20).
A proporção da graça que o homem recebe depende exclusivamente da sua decisão, independentemente da vontade de Deus, já manifesta. Por esta razão, nos adverte o apóstolo Pedro (vejamos 2 Pe 3. 18).
3. A provisão de Cristo
Apesar de estar empenhado na nossa salvação e segurança, não é querer de Deus declarar-nos inocentes simplesmente. Devemos ter em mente o fato de que Deus é um Deus não só de amor, é um Deus também de justiça. Portanto, para Deus declarar-nos inocentes independentemente da nossa conversão, seria uma ofensa a sua justiça. Seria um procedimento que entraria em choque com a sua santidade que declara que a alma que peca essa morrerá (Ez 18. 4, 20).
Então, como poderia Deus manter a perfeição da sua justiça e ainda assim salvar pecadores? A resposta está no fato de que Deus não desculpa o nosso pecado, pelo contrário, Ele o remove completamente.
Vejamos o que nos dizem as Escrituras (Jo 1.29).
Assim como o cordeiro para o uso nos sacrifícios da antiga aliança devia ser um animal sem nenhum defeito, ou mancha, de igual modo Deus requeria um cordeiro substituto perfeito, capaz de oferecer um único sacrifício suficiente para salvar a tantos quantos aceitasse o seu sacrifício (Hb 9. 14).
4. O alcance da salvação
Observe a seguinte indagação: “Por quem Cristo morreu?”.
Se a resposta for “Pelo mundo inteiro”, alguém dirá: “Porque então nem todas as pessoas são salvas?”.
Se a resposta for “Pelos eleitos”, outro articulará: “Deus é injusto, pois a salvação é limitada”.
A fim de equacionar esta questão, a Bíblia se nos oferece respostas:
a) A salvação é para o mundo inteiro (Hb 2. 9; 1 Jo 2.2).
b) A salvação é para os que crêem ( 1 Tm 4. 10; At 16. 31).
c) Alguns abandonarão a salvação. (2 Pe 2. 1).
II. O aspecto Divino da salvação.
A salvação tem seu fundamento em Deus. Perguntas como: “Por que somos salvos” e “Como somos salvos”, só podem encontrar resposta verdadeira em algo fora do homem, em Deus. É este aspecto da salvação que vamos considerar aqui.
1. A presciência de Deus
“Presciência é o aspecto da onisciência relacionado com o fato de Deus conhecer todos os eventos e possibilidades futuros”.
Este atributo divino não interfere nas decisões do homem, nem do seu livre arbítrio.
As ações do homem não são permitidas ou impedidas simplesmente porque são previamente conhecidas por Deus.
Para uma melhor compreensão do assunto, você poderá ler as seguintes referências bíblicas: At 2.23; 26. 5; Rm 3. 25; 8. 29; 11. 2; 1 Pe 1. 2, 20; 2 Pe 3.17.
2. A eleição Divina
Eleição é o ato de eleger, escolha.
É o diploma divino com que é agraciado todo o que recebe a Cristo Jesus como seu único e suficiente salvador (Jo 3. 16).
A eleição subentende que a pessoa, mediante o sacrifício de Cristo, já atendeu a todos os requisitos exigidos pela justiça de Deus quanto ao perdão de seus pecados.
2.1. Considerações sobre a doutrina da eleição
Na explicação da eleição, é preciso levar em conta as duas verdades bíblicas, que é a da soberania de Deus e a da responsabilidade do homem na salvação.
a) A iniciativa de Deus na salvação;
Deus é quem toma a iniciativa na salvação das pessoas.
A necessidade desta iniciativa vem do fato do homem estar morto espiritualmente e não poder operar a sua própria salvação (Ef 2. 1-3, 5, 6).
O pecador, sem a graça de Deus (1 Co 2. 14; 2 Co 4. 4; Ef 4. 18). Por isto, Deus toma a iniciativa na salvação do homem.
b) A responsabilidade do homem.
Não obstante a eleição, o homem ainda fica livre e responsável por suas decisões (Lc 9. 23; Ap 22. 17).
Deus trabalha no homem. A mente, as emoções, à vontade, a consciência do homem são trabalhadas (e não substituídas) por Deus, através do Espírito Santo e da Palavra, de maneira que o homem possa aceitar, ele mesmo, e com responsabilidade e vontade própria, a oferta de Deus.
No plano geral de Deus, a obra de Cristo visa a todos (Gn 12. 2; Mt 28. 19, 20; 1 Jo 2. 1, 2; Ef 3. 6; Tt 2. 11). Dentro desse plano geral vem a eleição; dentro da eleição está a liberdade e a responsabilidade do indivíduo (Rm 2. 12; Mt 11. 20-24).
A maior dificuldade em entender a eleição está no fator tempo. Daí a freqüência com que surge a seguinte pergunta: “Se a pessoa é eleita antes de lançados os fundamentos da terra, como, pois, a eleição pode ser baseada na fé em Cristo?”. Pedro responde esta pergunta, vejamos (1 Pe 1. 2). Baseado no seu conhecimento quanto à decisão que o crente tomaria, Deus o elegeu, antes mesmo de lançados os fundamentos da terra.
3. A predestinação
A doutrina da predestinação é uma das mais consoladoras doutrinas da Bíblia.
Sua essência repousa no fato de que Deus tem um plano geral e original para o mundo, que seus propósitos jamais serão frustrados.
3.1. Definição da palavra “predestinação”
“Predestinação” – pré = antes + destinar = destino. Que é destinar com antecipação; escolher desde toda a eternidade, etc. Este termo é do ponto de vista literário.
Do ponto de vista divino, predestinação, segundo se depreende, assume um caráter de profundo significado e de infinito alcance.
Tal expressão vem do grego “proo-rdzo”, que, literalmente, significa “assimilar de antemão”;
A preposição grega “pro” faz essa palavra indicar uma atividade feita de antemão, etc.
Para entender melhor a Doutrina da Predestinação vamos lê João 3.16.
a) A predestinação é universal.
Deus, em seu profundo e inigualável amor, predestinou todos os seres humanos à vida eterna (At 17. 30; Jo 3. 17).
Ninguém foi predestinado ao lago de fogo que, conforme bem acentuou Jesus, fora preparado para o diabo e seus anjos (Mt 25. 41).
b) O fato do homem ser predestinado a vida eterna, não lhe garante a bem-aventurança.
É necessário que o homem creia no evangelho (Rm 1. 16). Somente assim poderá ser havido por eleito (Jo 5. 24; Mc 16. 16; Jo 3. 18-21).
III. O aspecto humano da salvação.
Faz-se necessário abordarmos o aspecto humano da salvação.
A salvação é um ato que parte de Deus em favor do homem, e não do homem em favor de Deus. Haja vista a impossibilidade do homem em agradar a Deus por si só houve a necessidade da iniciativa divina em prover a salvação independentemente dos méritos humanos. Porém, existem três atos de responsabilidade do homem, embora nestes também o pecador dependa da graça de Deus para a sua realização. Estes atos são tratados aqui numa ordem que tem sentido apenas lógico, e não cronológico, porque, na verdade, eles se realizam simultaneamente.
1. Arrependimento
2.1. Exigência do arrependimento na salvação
Arrependimento é o primeiro passo que se requer na salvação. Sem ele não há salvação. Os profetas do antigo testamento pregaram o arrependimento, implícito na idéia da salvação, como uma exigência básica de Deus para o livramento do povo (Dt 30. 10; Jr 8. 6; Ez 18. 30).
Arrependimento foi também o ponto alto na pregação de João, o Batista, como exigência do Reino de Deus (Mt 3. 2; Mc 1. 15).
Jesus seguiu a mesma linha de pregação do precursor, requerendo o arrependimento dos homens para a entrada no Reino de Deus (Mt 4. 17; Lc 13. 3-5).
O mesmo fez os apóstolos (Mc 6. 12; At 2. 38; 3. 19; 20. 21; 26.20). O arrependimento é uma ordem de Deus para todos os homens e em todos os lugares (At 17. 30).
2.2. Significado de arrependimento
O arrependimento (gr. Metanoia) é essencialmente uma mudança na mente em relação ao pecado e a Deus.
O arrependimento envolve uma completa mudança de pensamento sobre o pecado e a percepção da necessidade de um salvador.
Esses são os passos que levam o homem ao arrependimento operado por Deus:
a) Reconhecimento do pecado (Sl 51. 3,7)
b) Tristeza pelo pecado (Sl 51. 1,2; 2 Co 7. 9,10).
c) Abandono do pecado (1 Jo3.9).
A pessoa arrependida quer fazer a vontade de Deus. Decide deixar o pecado e seguir a cristo.
2. Fé em Jesus Cristo:
2.1. A exigência da fé para a salvação
Junto com a exigência do arrependimento para a salvação vem a fé em Cristo. A fé é o elemento essencial na salvação cristã. É por meio dela que a graça divina opera em nós. É pela fé em cristo que somos salvos (At 16. 31; Ef 2. 8; Rm 5. 1).
Paulo resume sua exortação aos cristãos da Galácia dizendo que “em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão vale coisa alguma; mas sim a fé que opera pelo amor” (Gl 5. 6). A fé é básica no plano redentivo de Deus.
2.2. Conceito da fé para salvadora
A fé salvadora [Do gr. Pistenõ; Do lat. Salvadore] isto é, proveniente da proclamação do evangelho, esta fé leva-nos a receber a Cristo como nosso único e suficiente salvador (Jo 3. 16).
A fé salvadora só há de nascer no coração humano através da pregação do evangelho (Rm 10. 13-17). Sem a mensagem da cruz, não pode haver fé salvadora.
3. Conversão
3.1. Significado de conversão e sua relação arrependimento e fé
Deus requer a conversão dos pecadores para que sejam perdoados e salvos (Is 55. 7; Jr 18. 11; Mt 18. 3; At 3. 19), como também exige arrependimento e fé (At 2. 38; 16. 31).
A conversão está intimamente associada ao arrependimento e a fé, mas destes pode ser distinguida. Num sentido mais geral, conversão inclui o arrependimento e a fé (At 3. 19; At 2. 38; At 16. 31).
IV. Composição da salvação
1. União com Cristo:
1.1. União com Cristo como lugar da salvação.
Em Cristo é o lugar onde se opera a salvação. Os homens estão em Cristo ou fora de Cristo, e por isto, salvos ou perdidos. Paulo declara que “Se alguém está em Cristo nova criatura é” (2 Co 5. 17). Recebemos todas as bênçãos espirituais como resultados de estarmos “em Cristo” (Ef 1. 3-14).
Em Romanos 6. 1ss, o apóstolo explica que o segredo da salvação efetiva na vida, capaz de produzir santificação e libertação, é a nossa união com Cristo, da qual o batismo é um sinal exterior.
Em João 15. 1ss, também está claro que a única maneira de se viver à vida cristã é na união com Cristo. Este é o ensino uniforme do novo testamento. No arrependimento, fé e conversão, o pecador é levado até Cristo e único a ele pelo Espírito Santo.
2. Regeneração
A regeneração difere do arrependimento, fé e conversão no sentido de que ela é uma ação direta de Deus na vida do crente. O homem deve arrepender-se, crer e converter-se; assim Deus ordena. Mas não há mandamento para que o homem se regenere, pois esta é uma obra de Deus. Ela é o princípio essencial da salvação.
2.1. Termologia Bíblica
A Bíblia utiliza vários termos para referir-se ao que chamamos de regeneração.
Entre outros, ela fala de novo nascimento (Jo 3. 3) ou nascido de Deus (Jo 1.13; Jo 5. 1, 4); renovação pelo Espírito (Tt 3. 5); vivificação (Ef 2. 1, 5); nova criação (Cl 2. 13; 3. 1). O termo mais apropriado e utilizado na teologia é regeneração (Tt 3. 5; 1 Pe 1. 3). A idéia Bíblica é de que há um homem natural e outro regenerado, ou feito de novo em Cristo.
2.2. Necessidade da regeneração
Regeneração é uma exigência absoluta para a entrada no Reino de Deus (Jo 3. 3).
A razão disto é que o homem está morto em delitos e pecados (Ef 2. 1), e precisa de uma vivificação de fora para poder viver eternamente (Ef 2. 4-6).
Nessa vivificação o pecador é santificado, e sem esta nova vida moral e espiritual ele não poderia ter comunhão com Deus (Hb 10. 10; 12. 14).
Além disto, o padrão ético-religioso de Jesus para os seus seguidores está muito acima daquilo que o homem natural pode atingir. Ele requer uma justiça acima da “dos escribas e fariseus” (Mt 5. 20); o caráter dos cidadãos do Reino de Deus é muitíssimo elevado (Mt 5 a 7); o alvo de perfeição é o próprio Pai celestial (Mt 5. 48); o amor para com Deus deve ser incondicional (Mt 22. 37s).
Por tudo isto se requer uma nova vida, vinda de Deus para dentro do coração do homem, conforme Ele mesmo prometeu fazer muito tempo antes (Jr 31. 33, 34; Ez 36. 26,27).
2.3. Significado de regeneração
Regeneração é o ato de Deus pelo qual Ele muda a disposição moral da alma do indivíduo, na união com Cristo, tornando-o moral e espiritualmente semelhante a Cristo. Deste conceito podemos destacar os seguintes aspectos:
2.3.1 Regeneração como um ato de Deus
É Deus quem opera a regeneração, pelo seu Espírito (Jo 1. 13; 3. 5, 6; Tt 3. 5; 1 Pe 1. 3).
O Espírito Santo convence o homem “do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16. 8). Ele purifica e renova o coração e a alma.
A palavra de Deus é o instrumento que o Espírito Santo usa na regeneração (Rm 1. 16; 1 Co 1.21; 1 Ts 2. 13; 1 Pe 1. 23).
O pregador pode semear a palavra e cuidar da semente, mas só Deus dá o crescimento (1 Co 3. 6).
2.3.2 Regeneração como mudança na alma
Na regeneração Deus muda a disposição moral dominante da alma do pecador. Romanos 8. 5-7, diz como é a disposição moral dominante de quem não é regenerado:
a) É carnal, isto é, recebe seu impulso dominante da própria natureza humana, no seu estado de depravação ou corrupção, e não do Espírito de Deus.
b) É também mortal, quer dizer, tem em si o germe da morte e conduz pra lá.
c) É ainda inimiga de Deus e insubmissa a lei divina.
As inclinações naturais do não regenerado são, em sua natureza moral, concupiscentes, infames e depravadas (Rm 1. 24, 26, 28).
O homem, por natureza, está morto em delitos e pecados, e como tal é levado como um cadáver por uma tríade infernal: o mundo, o diabo e a carne (Ef 2. 1-3).
Na regeneração, esta situação do homem natural é revertida. A paixão dominante da alma converte-se em amor para com a justiça e ódio para com o pecado (1 Jo 3. 6-9).
Produz-se no crente a imagem moral e espiritual de Cristo (Rm 8. 29; 1 Jo 3.2).
O velho homem morre crucificado com Cristo (Rm 6. 6), e ressurge um novo homem, que se renova para a eternidade (cl 3. 9, 10).
2.3.3 Regeneração e a união com Cristo
O lugar onde se opera a regeneração é em Cristo (2 Co 5. 17). Nele o velho homem morre e o novo homem é criado (Ef 2. 10).
Esta união é obra do Espírito Santo naquele que crê; com isto ele é unido a Cristo pelo Espírito Santo (Ef 1.13).
2.3.4 Regeneração e semelhança moral com Cristo
Nasce no regenerado um novo homem, que segundo Deus foi criado em verdadeira justiça e santidade (Ef 4. 24). Em princípio, o regenerado se torna semelhante a Cristo. Ele não pode mais descansar numa vida de pecado. Por causa da luta ou guerra espiritual do crente com o pecado (Gl 5. 16-17). É disto que nasce o impulso da santificação, como um processo de conformação contínua do crente com a imagem de Cristo (Rm 12. 1-2).
2.4. Efeitos da regeneração
A regeneração produz efeitos posicionais, espirituais e práticos.
1) Efeitos posicionais
É a condição de filho de Deus por adoção (Jo 1. 12, 13; Rm 8. 16; Gl 4. 6); como filho, o crente é também herdeiro de Deus e co-herdeiro de Cristo (Rm 8. 17), cuja herança fica assegurada no céu (1 Pe 1. 4). Além disto, por ser filho o crente goza do acesso ao Pai Celestial e tem comunhão com Ele (Rm 5. 1ss).
2) Efeitos espirituais
São as virtudes que o crente recebe do Senhor na sua alma (Gl 2. 20). “Ele é fortalecido no Senhor e na força do seu poder” (Ef 6. 10; 3. 16-19).
3) Efeitos práticos
Aparecem na vida do crente no dia-a-dia. Ele busca a vida de justiça, santidade, amor e verdade (Ef 4. 22ss). Ele pratica o amor fraternal, serve a Cristo e aos irmãos. Produz as obras que é o fruto da vida em Cristo (Gl 5. 22; Ef 5. 9-11).
3. Justificação
3.1. O lugar da justificação na Bíblia
A justificação é uma doutrina importante na ordem da salvação, a julgar pela ênfase e importância que a Bíblia dá a ela. É o apóstolo Paulo quem desenvolve e mais enfatiza a doutrina da justificação, especialmente em Romanos e Gálatas (cf. Rm 3. 24, 25, 26; 4. 25; 5. 1,16, 18; 8. 33; Gl 2. 16; 3. 11; At 13. 39). Mas não foi apenas Paulo que falou dessa doutrina. O profeta Isaías já havia se referido a ela como uma obra do Messias, que iria justificar a muitos (Is 53. 11). Jesus Cristo também fez menção à justificação quando disse que o pecador publicano “desceu justificado para a sua casa” (Lc 18. 14).
Portanto, trata-se de uma doutrina bíblica, que foi desenvolvida pelo apóstolo aos gentios, no contexto cultural greco-romano, enfatizando o aspecto judicial da salvação.
3.2. O significado de justificação
Justificação pode ser definida com o ato de Deus declarar o pecador perdoado, livre da condenação, e restaurado ao favor divino. Com base neste conceito, podemos fazer os seguintes destaques relativos à justificação.
3.2.1 O sentido judicial de justificação
Justificação é um ato judicial de Deus. Ela ocorre diante do tribunal divino e não na alma humana do homem, como acontece com a Regeneração.
A justificação significa que o pecador foi julgado em Cristo, está perdoado, é aceito como justo diante de Deus, e fica absolvido da condenação eterna (Jo 5. 24; Rm 8. 1, 33).
3.2.2 O perdão na justificação.
Justificação implica no perdão dos pecados, por isto não há mais condenação (cf. Lc 18. 14; Jo 5. 24; Rm 8. 1). Todos os pecados são tratados na justiça de Cristo, aqueles já cometidos e os que ainda vierem a ser praticados, pois o perdão remove toda a culpa do indivíduo diante do trono de Deus, e garante seu pleno livramento da condenação eterna. A provisão para o perdão dos pecados futuros já fora feita (1 Jo 2. 1,2). Entretanto, o justificado, ao cometer pecado, deverá confessá-lo e apropriar-se do perdão oferecido para não carregar o peso da culpa na sua consciência e sofrer os efeitos disto na sua relação com Deus (cf. Sl 32. 3-5; 51. 1-13).
3.2.3 Restauração na presença Divina
A justificação vai além do perdão e da absolvição; há também um aspecto positivo: uma nova relação com Deus e nova condição de vida. Os justificados são recebidos diante de Deus como filhos amados e alvos de todos os favores da graça divina. A “adoção de filhos”, que é um ato legal e não natural, resulta da justificação (Rm 8. 15, 16). Junto com a adoção vem o direito de herança no reino de Deus (Rm 8. 17; 1 Pe 1. 4) e o recebimento do Espírito Santo (Gl 4. 6; Rm 8. 9ss).
Os justificados recebem “herança entre aqueles que são santificados” (At 26.18). Eles gozam da “paz com Deus”, e têm “acesso” à graça de Deus, e contam com a “esperança da glória de Deus” (Rm 5. 1,2). A justificação traz consigo a reconciliação do indivíduo com Deus e a certeza de salvação (Rm 5. 9, 10). Os favores divinos na justificação incluem também a garantia daquelas coisas futuras que acompanham a salvação: novo corpo, novo céu e nova terra, nova comunhão com Deus (Rm 8. 11, 23, 29, 30).
3.2.4 O sentido escatológico da justificação
A justificação, como relação com o juízo final de Deus, tem um caráter essencialmente escatológico. É um ato de Deus presente que encontra sua substância num acontecimento futuro. Sem a realidade do juízo final de Deus a justificação não teria sentido.
Para o crente em cristo, Deus antecipa a decisão do futuro e o declara absolvido da condenação. Portanto, a justificação deve ser recebida pela fé, “esperança”, como toda a salvação (Rm 8. 24). Temos por certo algo que só haveremos de receber completamente no futuro.
3.2.5 A base da justificação
Como pode Deus justificar o pecador sem que ele se torne injusto? A expiação de Cristo na Cruz responde a questão (Rm 3. 25, 26). O sofrimento de Cristo significa o pagamento da culpa de todos os nossos pecados, o cumprimento da Lei que condena, de modo que, unidos a Ele pela fé morremos com Ele e ficamos livres da condenação da Lei, e somos declarados justos e absolvidos da nossa condenação.
A base da justificação é a justiça alcançada pelo filho de Deus (2 Co 5. 14, 15, 19, 21).
V. Continuidade e consumação da salvação
O arrependimento, a fé a conversão, a união com Cristo, à regeneração e a justificação são atos salvíficos que acontecem no início da vida cristã. Sem eles não se pode dizer que a pessoa recebeu a salvação. Mas durante toda a vida do crente, desenvolve-se nele a experiência de salvação, através do processo da santificação. No final da sua existência terrena, o crente é glorificado, consumando-se nele a gloriosa salvação. Em todo este processo, a graça de Deus atua de modo a garantir a vida eterna. Portanto, santificação, glorificação e preservação são os três tópicos que vamos estudar aqui.
1. Santificação
1.1 Conceito de santificação
Santificação é a obra contínua do Espírito Santo pela qual Ele vai conformando o crente à imagem de Cristo.
A palavra santificação traduz duas idéias básicas ou fundamentais: Separação para Deus e Purificação.
Santificação é o processo pelo qual o crente é separado do pecado e simultaneamente preservado e estimulado para a santidade e serviço a Deus. Esta separação para Deus implica em purificação (cf. Lv 11. 44ss; i Ts 4. 3; 5. 23).
Purificação moral é um elemento de santidade (1 Pe 1. 15; 2 Pe 1. 4). Por isto que santificação, como um processo contínuo, implica em mortificação constante do homem velho (Rm 6. 6; Gl 5. 24; Ef 4. 22) e renovação do homem novo (Ef 4. 24; Cl 3. 3-10).
A idéia de santificação aplicada aos cristãos deve ser vista sob três perspectivas, que podemos chamar de santificação posicional ou objetiva, santificação progressiva e santificação futura.
a) Santificação posicional ou objetiva
No ato da regeneração, todos os crentes são santificados e, portanto, são santos, porque já estão separados para Deus e purificados (Rm 1. 7; At 9. 13; 1 Co 1.2; 2 Co 1.1; Ef 1.1; Cl 1.2).
b) Santificação progressiva
Isto é, o Espírito Santo continua trabalhando na vida do cristão regenerado, a fim de que ele desenvolva o seu caráter e a sua personalidade, à luz do padrão perfeito, que é Cristo: neste sentido somos exortados a que nos santifiquemos ainda mais (Ef 4. 17ss; Cl 3. 1ss; 1 Ts 5. 23; Hb 12. 14; 1 Pe 1. 13ss). Significa que o Espírito Santo continua no processo da nossa separação para Deus e purificação, até o dia final, quando então seremos aperfeiçoados diante de Deus, e seremos perfeitos como Cristo o É (1 Jo 3. 2, 3): isto é a santificação futura.
1.2 Elementos decisivos na santificação
1.2.1. O Espírito Santo
É o Espírito Santo que efetua no crente a santificação, tanto aquela inicial (posicional) (Tt 3. 5; 1 Pe 1. 2) como a que se desenvolve durante a vida cristã (progressiva) (2 Co 3. 18; Rm 8. 13; Ef 3. 16; Gl 5. 16).
O Espírito Santo ensina, convence, guia a toda a verdade e fortalece o crente. Ele se dispõe a habitar em plenitude no crente para desenvolver no cristão a sua santificação (Ef 5. 18; Gl 5. 16). Sem essa presença abundante do Espírito na vida, o crente fica a mercê de suas fraquezas morais e espirituais.
1.2.2. União com Cristo
A santificação acontece na união com Cristo. Santificação é o processo pelo qual o Espírito Santo torna cada vez mais real em nossa vida, nossa união com Cristo em sua morte e ressurreição. A vida cristã é uma questão de nos tornarmos em nível de caráter intrínseco o que já somos em Cristo. Tornar-se o que é (Ef 5. 8).
O cultivo da união consciente com Cristo é fundamental para o progresso da santificação (Jo 15. 4, 5; Gl 2. 20; Ef 3. 17).
1.2.3. A palavra de Deus
A palavra de Deus é o instrumento do Espírito Santo na santificação do crente (Jo 17. 17; 2 Tm 3. 17; Jo 15. 3).
A palavra de Deus é viva e penetra até as profundezas da alma, sonda o íntimo, traz à luz da consciência o pecado, convence o crente a abandonar o erro, faz crescer (Hb 4. 12; 1 Pe 1.23; 2.2). Tudo isto Ela faz porque é uma palavra inspirada de Deus e é usada pelo Espírito Santo.
1.2.4. O esforço do crente
A santificação é uma obra do Espírito de Deus feita em cooperação com o crente. O indivíduo, como ser pessoal, é elemento decisivo na santificação. Ele há de buscar a vontade de Deus na sua palavra, precisa buscar o enchimento do Espírito Santo, deve ser submisso e obediente à palavra de Deus; O crente tem de lutar contra o pecado que ameaça alojar-se em sua vida, precisa deixar o pecado e consagrar-se inteiramente a Deus (cf. Rm 6.11-13; Cl 3. 5ss; Fl 2.12,13; 1 Pe 1. 13-22).
1.2.5. A oração
Elemento também decisivo na santificação da vida cristã é a oração. É pela oração que o crente cultiva sua relação com Aquele que é Santo e que santifica. Oração é o alimento da comunhão pessoal do santificado com o Santificador.
É na oração que se aguça a percepção espiritual, tanto para reconhecer os pecados na vida como para vislumbrar a glória da santidade de Deus. Desse contraste surge o quebrantamento e o arrependimento, que impulsionam a santificação (Is 51. 17; Is 57. 15).
2. Glorificação
A salvação na vida do indivíduo opera-se em etapas diferentes. Ela tem um começo, um desenvolvimento e uma consumação. No começo da salvação destacamos o arrependimento, a fé, a conversão à união com Cristo, à regeneração e a justificação. Os três últimos são atos exclusivos de Deus na vida de quem se arrepende, crê e se converte a Cristo. No desenvolvimento da salvação temos a santificação. Na consumação, está a glorificação. É na glorificação que o crente pode experimentar a plenitude da salvação. Portanto, a salvação tem um tempo passado, outro presente e outro futuro. O conteúdo maior da experiência da salvação está no futuro (Rm 8. 24; 13. 11; 1 Pe 1. 3-5; 2. 1, 2; 1 Jo 3. 2).
2.1 O significado da glorificação
O termo glorificação aqui é empregado para designar tudo àquilo que está incluído na salvação futura, a partir da morte física, mas especialmente seguindo-se a volta de Cristo. Alguns textos ressaltam essa glória que será dos salvos (Rm 5. 2; 8. 18; 2 Co 4. 17; Cl 1. 27; 1 Pe 1. 4-9). As experiências de aflições do crente no mundo presente são amenizadas com a esperança de Glória no mundo vindouro.
2.2 Aspectos da glorificação
Não sabemos tudo que está incluído na glorificação. Mas a Bíblia nos revela alguns aspectos dessa glória vindoura.
2.2.1. Novo corpo
Na ressurreição os crentes terão um novo corpo, corpo glorificado, isto é, adaptado as condições de existência do mundo vindouro (Lc 20. 35, 36; Rm 8. 23; 1 Co 15. 51ss; Fl 3. 21). Aquele corpo não estará mais sujeito as condições ou as leis desta criação, mas será corpo espiritual, quer dizer, regido por leis do espírito, da nova criação, tal qual o corpo ressurreto de Jesus.
2.2.2. Nova habitação com Deus
Novo céu e nova terra, nova Jerusalém, são expressões bíblicas que indicam uma nova habitação para os remidos do Senhor (Fl 3. 20; Hb 11. 16; 2 Pe 3. 13; Ap 21. 1-4). Se o pecado arruinou a morada de Deus com os homens aqui na terra, na redenção Deus proveu uma nova terra, nova morada, onde Deus estará com os homens.
2.2.3. Nova comunhão com Deus
Nossa relação com o Pai e com o Filho neste mundo é pela fé. Estamos ausentes do Senhor (2 Co 5. 6).
Nossos privilégios de filhos de Deus são ainda precários (1 Jo 3. 2; Rm 8. 23, 26), mas na glorificação teremos uma aproximação perfeita com Deus e com Jesus Cristo (2 Co 5. 6-8; i Jo 3. 2; Ap 21. 3,4; 22.4). A promessa para o final é que veremos a sua face; e nas suas frontes estará o seu nome (Ap 22. 4).
2.2.4. Libertação plena do pecado
Na justificação o crente é libertado da culpa e do castigo do pecado; na regeneração e na santificação a libertação é do poder do pecado na vida; na glorificação a libertação é não só das conseqüências e do poder do pecado, mas também da presença do pecado, e de modo completo. O pecado não mais existirá na alma nem no mundo dos salvos e não mais interferirá na relação com Deus e com o próximo. Os salvos são normalmente perfeitos (Hb 12. 23; 2 Pe 1.4; Ap 21. 27). Uma nova sociedade surgirá dos remidos de Cristo. Desta forma, a salvação estará consumada.
Conclusão
Portanto, a salvação tem um caráter essencialmente escatológico. As experiências de salvação desfrutadas no tempo presente são apenas indícios e antecipação parcial das bênçãos futuras. A fé e a esperança são agora as virtudes cristãs que ligam o crente do conteúdo escatológico da salvação. O amor é a consequência prática da fé e da esperança (Gl 5. 6; 1 Tm 1. 5; 2 Pe 1. 5-7).
Na visão escatológica da salvação, o crente encontra sentido e encorajamento para a sua vida cristã terrena. Sem esta perspectiva, “somos de todos os homens os mais dignos de lástima” (1 Co 15. 19).
Extraído da internet
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